Nosso CAPS - 10 Anos de história

A Assistência Psiquiátrica em nossa região teve historicamente um caráter hospitalocêntrico. Juiz de Fora, junto com Barbacena e Belo Horizonte, formaram o que ficou nacionalmente conhecida como “corredor da loucura”. A concentração de leitos psiquiátricos nestes municípios ultrapassava qualquer parâmetro técnico tolerável em relação à população de referência, passando a ser referência para uma área geográfica enorme e que, muitas vezes, ultrapassava os limites da fronteira do próprio estado. Qualquer política de Saúde Mental séria que se pensasse implantar deveria levar em consideração esta realidade. Organizar o serviço de saúde mental na região visando reverter essa situação implicaria também que a sua região de referência histórica no encaminhamento de pacientes tivesse um mínimo de organização em seus serviços, considerando a complexidade da assistência à saúde de cada um destes municípios.

            Juiz de Fora é sede de uma das vinte e cinco Diretorias Regionais de Saúde do Estado de Minas Gerais. Desde sua implantação, foi dividida em cinco micro-regiões de saúde e talvez uma das primeiras tentativas de organizar o tratamento e o encaminhamento de pacientes portadores de sofrimento mental para Juiz de Fora tenha ocorrido na década de 80, com a contratação pela Secretaria de Estado da Saúde de equipes mínimas (psiquiatra e psicólogo) para atuação em cada uma destas micro-regiões. Por questões políticas e da grande desorganização a que esteve submetida a administração pública estadual no final daquela década, além de outros motivos, este trabalho mal chegou a ser implantado. A força e a hegemonia dos hospitais é o que continuou a prevalecer.

            Foi somente a partir da década de 90 que o próprio município de Juiz de Fora tentou dar os primeiros passos no sentido de organizar seu serviço de saúde mental, com a implantação de um serviço de urgências psiquiátricas (SUP) e, posteriormente, com um Centro de Atenção Psicossocial (CAPS) e um serviço ambulatorial para o tratamento para dependência química. A região em torno do município, aquela que sempre foi sua área de encaminhamento de pacientes, continuava sem contar com serviços de saúde mental e, agora, com um dado novo que foi a dificuldade crescente em internar seus pacientes nos hospitais de Juiz de Fora, pois todas as internações deveriam passar primeiramente pelo SUP.  Esta nova realidade, embora correta, acabou contribuindo para aumentar a distorção já existente, ou seja: os municípios traziam os pacientes e, como era difícil internar, quando conseguiam, geralmente não os mandavam buscar de volta quando da alta hospitalar, aumentando a população de pacientes asilares nas instituições psiquiátricas.          

        No final da década de 90 e já sob os auspícios da nova estrutura do Sistema Único de Saúde uma negociação mediada pela Comissão Intergestores Bipartite da Diretoria Regional de Saúde de Juiz de Fora, foi dado um passo concreto para a mudança desta realidade. O município de Juiz de Fora acordou com o município de Santos Dumont o repasse financeiro de seu teto orçamentário para a implementação de uma rede de serviços em saúde mental (CAPS) naquela região que se responsabilizasse pelos cuidados dos pacientes de sua área de abrangência para que os mesmos não fossem mais encaminhados aos hospitais de Juiz de Fora ou, se o fosse, que a equipe fizesse o acompanhamento de seu tratamento nos hospitais para continuar tratando-os quando da alta hospitalar.  O CAPS Dr. Carlos Pereira da Costa foi implantada em Setembro de 2000 e desde então busca consolidar a política de reforma psiquiátrica no município e na microrregião que envolve, alem da cidade pólo, os municípios de Oliveira Fortes e Aracitaba, abrangendo uma população total de 50.080 habitantes.

Nos sete primeiros anos de funcionamento o CAPS de Santos Dumont reduziu de vinte e duas para apenas duas internações mês. Esta queda brusca foi acompanhada de implantação de oficinas terapêuticas e avançada, atividades de reinserção social e de geração de renda.

Em julho de 2006 iniciamos política de internação ZERO. Implantamos dois leitos de retaguarda, de curta duração, no Hospital Geral de Santos Dumont. Os leitos funcionam como leito noite e nos fins de semana, durante o dia o usuário retorna ao serviço para atenção psicossocial. Em 05 de maio de 2007 foi nossa última internação em rede manicomial, completando no momento mais de três anos sem internações psiquiátricas.

Paralelamente, reorganizamos a rede de atenção em saúde mental. O Centro de Atenção Psicossocial Dr. Carlos Pereira da Costa tem seu funcionamento territorializado e é referência para todo o atendimento de urgência psiquiátrica do município e da região de abrangência bem como do acompanhamento ambulatorial daqueles casos mais graves e que não têm neste momento indicação para uma atenção diária. O município conta ainda com um serviço ambulatorial com atendimento feito por um psiquiatra e três psicólogos, dois leitos de retaguarda no hospital geral e estrutura de atenção em saúde mental no PSF em implantação. Ainda estão previstos organização de serviço voltado atenção a infância e adolescência, bem organização de ações intersetoriais em dependência química e reorganização do ambulatório em saúde mental. O CAPS em nosso município é parte de um cuidado que abrange uma rede de atenção clínica, social e comunitária. Esta rede visa aumentar o poder de contratualidade do portador de um sofrimento psíquico bem como construir ou reconstruir laços sócio-familiares perdidos. Soma-se a isto os inúmeros projetos de inserção social (Rádio CAPS, Time de Futebol, etc), geração de emprego/renda (Restaurante Trem de Doido, Loja de Artesanatos, Oficina Avançada de Marcenaria, etc) e outras articulações com a rede local que estabeleceram para o município uma nova realidade na assistência em saúde mental.

Outros fatores importantes foram a aprovação de nosso projeto de SRT – Serviço de Residencial Terapêutico, em fase de implantação, e o sancionamento da Lei Municipal de Saúde Mental, primeira do Brasil no gênero.

TEXTO: Douglas Nunes Abreu (Coordenador CAPS Dr. Carlos Pereira da Costa - Santos Dumont/MG)

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EQUIPE DO CAPS SANTOS DUMONT
Nossa equipe na comemoração de fim de ano...: Esq para Dir: Rosani, Marcelo, Branca, Katiusse, Ana Carolina, Taísa, Douglas, Maria, Peter, Laércio, Maria Lúcia e Carlos José.... Ausentes: Rosângela, Patrícia e Ricardo